Hoje trago mais um artigo interessante com algumas recomendações para prevenção do cancro. O artigo original (em inglês) pode ser consultado AQUI.
Cancro não é, nem nunca será uma doença fácil de abordar. Se só o próprio nome provoca terror, imaginem agora achar ter toda uma vida pela frente e num dia fatídico serem intercetados por um médico que vos dá o diagnóstico entre 4 paredes, despidas de qualquer conforto.
Acho que é daqueles diagnósticos que fazem com que literalmente vejamos toda a nossa linha cronológia a andar para trás. Será que te vais lembrar que tens filhos para criar? Será que há alguém dependente de ti? Será que reparas nos olhares tristes e preocupados de quem está à tua volta? Será que és a maior fonte de rendimento da casa? Será que é hereditário? Será que é do álcool e do tabaco que consumiste em excesso? Será que é o seu consumo de todo? Será que é do peso em excesso? Será que é do açúcar e da comida de plástico? Será que vives ou será que morres? Qual será o critério da doença? O que será que o futuro te reserva? Se entrares em remissão, será que vais viver com receio de uma recorrência?
Tenho bem presentes estas e outras questões, tenho bem presentes olhares e sorrisos que não voltarei a ver, presenças que não voltarei a sentir e lugares vazios que não voltarão a ser preenchidos.
Trabalho há muito tempo direta ou indiretamente com cancros do sistema gastrointestinal. Não é fácil, não gosto de falar, não gosto do apitar das máquinas de bombeamento da quimioterapia, não gosto do frio do bloco operatório, não gosto de perguntar como vai a vida desde a última vez, não gosto de dizer que vai ficar tudo bem. Agora imagina, se eu não gosto, como te sentirás tu? Por favor, não respondas, prefiro não saber por palavras aquilo que a tua linguagem não verbal me comunica.
Nenhuma doença tem tanto potêncial de prevenção como o cancro, quase metade de todos os diagnósticos podem ser evitados. 40% de todos os cancros podem ser prevenidos com mudanças no estilo de vida e na alimentação. Poderias não ter sido tu, mas porquê que foste tu?
Uma das primeiras recomendações para prevenção do cancro é: manter um peso saudável, isto implica manter o peso mais perto do limite mínimo do intervalo considerado saudável, evitando o ganho de peso durante a fase adulta e evitando a acumulação de gordura visceral e ultrapassar os limites considerados saudáveis de perímetro abdominal.
Ser fisicamente ativo é também muito importante. É recomendado limitar o tempo passado em frente a ecrãs e outros hábitos sedentários e incentivada a prática de exercício físico de, pelo menos, moderada intensidade durante 150 minutos ou 75 minutos de exercícios de maior intensidade semanalmente.
Ter uma dieta rica em vegetais, frutas, leguminosas e cereais integrais está em todas as diretrizes. No entanto, desde que a nossa alimentação providencie pelo menos 30g de fibra por dia, não é importante de que alimentos em específicos ela é obtida. No nosso estilo de vida primal, em primeiro lugar a fibra deverá vir de vegetais pobres em amido, depois de frutas, de raízes e tubérculos, só depois e moderadamente se tolerados, de cereais sem glúten como o arroz, o trigo sarraceno, a quinoa, etc. e de leguminosas como as lentilhas, grão, favas, etc. Para atingir este valor deverão ser consumidas pelo menos 5 porções, aproximadamente 400g diárias, de vegetais pobres em amido e frutas (ocasionalmente cereais e leguminosas).
Limitar o consumo de produtos alimentares ultraprocessados ou deixar de os consumir de todo, como refeições pré cozinhadas, fast foods, snacks, produtos de pastelaria e sobremesas que contenham excesso de açúcar, amido, gorduras e sal refinado. Evitar estes alimentos ajuda na restrição calórica e a manter um peso saudável.
Limitar o consumo de carnes vermelhas e ultraprocessadas, a aproximadamente 350-500g por semana e 21g respetivamente. Não me vou alongar neste tópico nem lançar a discórdia, o equilíbrio e variedade numa alimentação saudável são a chave! Numa semana podes introduzir peixe, ovos, carnes brancas e obviamente carnes vermelhas. Escreverei mais acerca deste tópico assim que me for possível, mas incentivo a leitura (não a compra!) de rótulos de produtos como salsichas de lata, salame, fiambre, bacon, presunto, chouriço etc.
Limitar o consumo de bebidas adoçadas ou deixar de as consumir de todo, esta recomendação aplica-se a todos os líquidos adoçados com açúcares como os presentes no mel, xaropes, sumos de concentrado, águas com sabor, refrigerantes, bebidas desportivas, bebidas energéticas, café ou chá adoçados.
Limitar o consumo de álcool ou deixar de o consumir de todo, dada a forte evidência de que o consumo de álcool aumenta o risco de certos tipos de cancro, a recomendação é de abstinência. No entanto, se consumir álcool, não exceda as 28g de etanol (2 bebidas/dia) se for do sexo masculino e 14g de etanol (1 bebida/dia) se for do sexo feminino, de modo a cumprir parcialmente com as recomendações.
Amamentar alinha-se com as recomendações de amamentação exclusiva até aos 6 meses de idade e alimentação complementar até aos 2 anos de idade da OMS. Este critério é específico para mulheres e está atualmente ligado a um menor risco de cancro da mama na mãe e como sendo protetor contra ganho de peso e obesidade nas crianças.
Estas não são todas as causas/ fatores de risco de cancro preveníveis, apenas as utilizadas no estudo em questão para criação de um sistema de score standardizado e com recomendações específicas. Sabemos por exemplo que o tabaco, a exposição solar sem critéio e infeções como o HPV (papiloma virus humano), também aumentam o risco de cancro e que são evitáveis.
No fundo 2 em cada 5 pessoas podem evitar este tipo de diagnóstico, só tens de fazer uma introspeção e decidir se vale a pena jogar às probabilidades e:
A) poupares-te mentalmente ao turbilhão de questões que passam pela cabeça de um recém diagnosticado e fisicamente aos procedimentos que o teu corpo terá de enfrentar caso o pior aconteça;
B) não sendo garantido que TU em específico vais ter cancro e que o diagnóstico não depende apenas de fatores ambientais, mas também da tua genética e da maneira como os teus genes são expressos e da tua longevidade, vais aproveitar a vida ao máximo enquanto cá andas.
A decisão é pessoal, mas as probabilidades mais elevadas estão com quem adota um estilo de vida saudável.
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